Antes, um breve resumo do ensino de História ao longo da História do Brasil

Quando pensamos o ensino de História, no decorrer do tempo, percebemos que esta disciplina, na escola, sempre foi ensinada para atingir determinados fins, seja para afirmar as identidades nacionais, percepção muito presente no século XIX tanto na Europa, quanto no Brasil. Pautada em focar nos “grandes homens, nas grandes batalhas e nas datas”; seja para formar uma “consciência patriótica”, como durante a Era Vargas (1930 – 1945), ou, ainda, com o intuito de desenvolver o patriotismo, e uma obediência às leis, como foi durante a ditadura civil-militar brasileira (1964 – 1985). Nos momentos citados, com alguma diferença nos métodos, o objetivo do ensino de História esteve fundamentado em despertar uma identidade, um sentimento de identificação com a nação, patriotismo e obediência.

A partir dos anos 80, do século XX, diante do contexto de redemocratização vivido pelo Brasil naquele momento, o ensino de História estava voltado para uma análise crítica da sociedade, tentando abandonar a ideia de História linear e focando na concepção de que “os homens fazem a sua própria História […]”, tentando romper com os pressupostos tradicionais. A partir de então, já se inicia uma preocupação com o domínio de alguns conceitos. Sendo os anos 90, como Fonseca (2017) aponta, voltado para a incorporação das tendências historiográficas, como História do cotidiano e das mentalidades, no ensino de História da educação básica.        

Mas, e os conceitos?                                                       

“[…] O ensino da disciplina justifica-se em todo o processo de escolarização se estiver aliado à necessidade de domínio e precisão dos conceitos […]” (Moniot, 1984)

No século XXI, em um mundo marcado pela competição, como indica Peter Lee (2016), o ensino de História necessita e sempre deve ser reafirmado. Sendo assim, devemos buscar outros modelos, que se distanciem da ideia do ensino de História como um acúmulo de informações, cronologia e afins. Para que tal distanciamento seja possível, Caimi (2006), nos mostra que, não basta o domínio do professor sobre os conhecimentos históricos que são “sistematizados pela historiografia e pela pesquisa histórica” (Caimi, 2006, pág.21). Ou seja, não basta apenas fazer a narrativa dos chamados “conteúdos”, estes são importantes, mas não devem ser o objetivo final do ensino de História, mas um meio.

Partindo disto, é relevante que o professor, conheça aspectos relacionados a estudos sobre como ocorre a construção dos conceitos e das noções nas crianças e nos jovens. Pois, a História lida com conceitos, pois, estes, nos ajudam a entender a realidade analisada, e, como diria Bittencourt (2018), tornar “o objeto histórico inteligível”. Tanto o historiador, quanto para o professor de História, lidar com os conceitos são de grande importância. Não estamos propondo que o ensino de História se resuma a discutir conceitos, longe disso, não temos essa pretensão! Mas, chamando a atenção para a importância de se discutir os conceitos como prática pedagógica no ensino de História, seja com o objetivo de se construir uma “consciência histórica”, na visão de Rüsen, ou uma Literacia histórica, na perspectiva de Peter Lee (2016).

Segundo Bittencourt (2018), é importante que o aluno entenda que os conceitos são uma construção histórica, e que eles variam com o tempo. Não é algo dado, mas que seu significado é transformado de acordo com o período analisado.  Percebendo que o conceito de escravidão antiga, por exemplo, não é o mesmo da escravidão moderna, e que a escravidão no continente africano, não é a mesma do continente americano, mesmo em períodos similares, cronologicamente falando. Ou seja, estes conceitos têm uma história, mudam ou podem mudar. Lee (2006), propõe que o ensino de História deve se preocupar, para além dos conteúdos, em mostrar como a disciplina se constitui, com suas teorias, métodos e conceitos, objetivando uma “reorientação cognitiva”, com o intuito de desenvolver o que ele chama de “faixas complexas”. Para tal, uma reorientação conceitual se faz necessário. Neste sentido, para Lee (2006), a compreensão e o domínio dos conceitos, por parte dos alunos, se fazem necessário.  Tarefa que nem sempre é fácil, sendo um dos principais desafios para os docentes, a criação de estratégias e metodologias para facilitar o entendimento por parte dos alunos. No site, além de expormos uma breve conceituação dos conceitos atrelados a escravidão, temos algumas propostas de atividades que poderão ajudar a mostrar aos alunos como os conceitos relacionados a esta temática são um processo de construção histórica.

Referências:

BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História: fundamentos e métodos. – 5ed.- São Paulo: Cortez, 2018 – (Coleção docência em formação: Série ensino fundamental/ coordenação Selma Garrido Pimenta)

CAIMI, Flávia Eloisa. Por que os alunos (não) aprendem História? Reflexões sobre ensino, aprendizagem e formação de professores de História.Tempo,  Niterói ,  v. 11, n. 21, p. 17-32,  June  2006 .   Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141377042006000200003&lng=en&nrm=iso>.accesson  25  Dec.  2019.  http://dx.doi.org/10.1590/S1413-77042006000200003.

FONSECA, Thais Nivia de Lima e. História & ensino de História. – 4d.; 2a. reimp. Belo Horizonte, Autêntica Editora, 2017.

LEE, Peter. Em direção a um conceito de literacia histórica. Educar em Revista, [S.l.], p. p. 131-150, mar. 2006. ISSN 1984-0411. Disponível em: <https://revistas.ufpr.br/educar/article/view/5543/4057>. Acesso em: 27 dez. 2019.

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