Um senhor (direita) e seu escravo (esquerda) numa flíax (espécie de drama burlesco), em cratera siciliana, c. 350 – 340 a.C.. Museu do Louvre, Paris, França

Como já mencionamos, os conceitos são construções históricas, passam mudanças ao longo do tempo, mas, também, apresentam elementos que permanecem. Sendo assim, vamos falar um pouco sobre o conceito de escravidão patriarcal.

A escravidão patriarcal, enquanto instituição, se fez presente, de forma mais significativa, em momentos específicos. Basicamente, na antiguidade clássica, mesmo assim, encontramos modelos iguais ou próximos[1], entre a Idade Média e Idade Moderna, no continente africano, por exemplo. Mas, como essa escravidão patriarcal se configura? Mário Maestri (1986) revela que, esse escravismo surgiu no final do Período Homérico (meados do séc. VIII a.C.), em comunidades chamadas de oikos[2] , quando ocorre o processo de privatização da terra. Essas comunidades são caracterizadas pela presença da pequena propriedade. E, diante de restrições estruturais como a precariedade dos transportes que impossibilitavam o comércio de longa distância, a agricultura era voltada para atender as necessidades internas da comunidade, e não um mercado externo, sendo o pouco excedente produzido, destinado ao comércio para o pagamento de trabalhadores temporários.

É neste contexto que escravidão patriarcal se inseriu, e se tornou segundo Maestri (1986), imprescindível, mesmo que não fosse a única forma de trabalho. Neste sentido, as relações de produção da escravidão, estão voltadas para atender o ambiente doméstico ou familiar, e de poucos escravizados. É importante ressaltar que, não se trata, necessariamente, de escravos domésticos, voltada para os afazeres das casas. O termo “doméstico”, está no sentido de que sua força de trabalho, está orientada para atender as necessidades internas da comunidade, as necessidades familiares, e não um mercado externo. Sendo assim, eram escravos integrados ao grupo familiar, trabalhando, muitas vezes lado a lado com o seu senhor, no campo, podendo despertar o que Maestri (1986) chama de “laços de simpatia e solidariedade”, e para Paul Veyne (1990),

“uma estranha relação jurídica, induzindo banais sentimentos de dependência e de autoridade pessoal, relações afetivas e pouco anônimas” (Veyne, 1990, pág.62).

Mesmo com essa integração, é importante não esquecer que o escravizado, continua com o status de propriedade!       

Referências:

VEYNE, Paul (org.). História da vida privada: Do império romano ao ano mil. tradução de Hildegard Feist. -3ª ed.- São Paulo: Companhia das Letras, 1990.

MAESTRI, Mário Filho. Breve história da escravidão. Porto Alegre, Mercado Aberto, 1986.


[1] Para saber mais, ver Mattoso (1988), “Ser escravo no Brasil”

[2] Os oikos, segundo Maestri (1986), eram unidades agrárias quase autossuficiente quanto a produção e o consumo, estas havia um chefe ou amo. O trabalho nestas unidades, eram feitos por familiares, dependentes e escravos. O foco econômico era pautado na agricultura, pastoreio e no artesanato. Para saber mais ver obra de Mario Maestri, Breve história da escravidão; Mercado aberto; Porto Alegre, pág.15, 1986.

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