DEBRET, Jean-Baptiste. Uma senhora brasileira em seu lar. 1823. Litografia aquarelada à mão

Como já afirmamos, os conceitos são contruções históricas, que variam ao longo do tempo e do espaço, logo, o que chamamos de escravidão colonial ou moderna, apresenta características que diferencia da escravidão antiga, mesmo que ambas tenham elementos em comum. Neste tópico, pretendemos mostrar as particularidades do escravismo colonial/moderno.  

O primeiro ponto é o fato deste escravismo se fazer presente entre os séculos XV e XIX d.C., com todas as transformações que o mundo ocidental vivia, no âmbito econômico, social, político e cultural. Podemos citar o mercantilismo, absolutismo, renascimento cultural, reforma protestante entre outros, como apenas alguns destes. Segundo, diferente da escravidão antiga, na escravidão moderna ou colonial, o escravizado, era predominantemente o africano, no caso do Brasil, a escravidão indígena era presente, mesmo que em uma proporção menor. Segundo Fernando Novais (1989), a opção pelo trabalho africano em detrimento do indígena, está ligado aos lucros proporcionados pelo tráfico negreiro, dentro de um processo de acumulação primitiva de capitais. Em resumo, comercializar africanos era mais rentável do que a escravização de indígenas, que se tratava de uma atividade interna da colônia.  Um terceiro ponto elencado por Mário Maestri (1994), é que a escravidão moderna não foi uma continuidade da escravidão antiga, mas uma superação desta.  Se insere em um contexto marcado pela expansão do comércio no mundo urbano europeu, proporcionando  um mercado extremamente viável para a produção americana. Além do aperfeiçoamento de meios de transporte capazes de conduzir grandes quantidades de mercadorias em distâncias maiores. Para além do que foi exposto, as características da produção na América, possibilitava o trabalho, permanente, durante todo o ano.  Sendo assim, nesta produção mercantil, voltada para o mercado externo, a classe escravista, detentora dos meios dos trabalhos, buscava aumentar a rentabilidade reduzindo os custos da produção, diminuindo os gastos com a mão de obra. Como essa produção escravista era marcada pela imobilização de capitais, gastos com a aquisição de mão de obra, neste caso, o escravizado, os proprietários buscavam extrair o máximo possível de trabalho excedente dos cativos. Sendo, os escravizados, obrigado as longas e extenuantes jornadas de trabalho, e tendo seus gastos reduzidos com os meios de subsistência. Ou seja, como o objetivo é aumentar a produção e reduzir os custos, a intenção era, aumentar a exploração sobre o escravizado e reduzir os gastos com alimentação e vestimentas dos mesmos.

Segundo Fragoso (1988), para Ciro Flamarion esse modo de produção escravista colonial se caracteriza pela  existência economia agrícola voltada para exportação, onde existem dois setores articulados, uma agricultura de exportação, ou seja, a produção de gêneros agrícolas para atender o mercado externo, atrelada a uma agricultura que atenda as necessidades internas da colônia. Uma economia vinculada ao capital mercantil externo, um baixo nível tecnológico das ferramentas que impossibilitem atender a demanda, sendo assim, a necessidade de se fazer uso excessivo dos recursos naturais e da mão de obra para tornar a rentabilidade da produção possível. A aquisição desta mão de obra pode ser feita de duas formas, exógena, pelo tráfico negreiro, ou, endógena, reprodução interna. No caso do Brasil, a reprodução exógena foi preponderante, já no caso dos EUA, a reprodução endógena se fez mais presente.         

CARDOSO, Ciro Flamarion (org.). Escravidão e abolição no Brasil. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1988.  

MAESTRI, Mário Filho. Breve história da escravidão. Porto Alegre, Mercado Aberto, 1986.

NOVAIS, Fernando A. Portugal e Brasil na crise do antigo sistema colonial (1777-1808). – 5ª-. São Paulo: Editora Hucitec, 1989. 

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